A Associação Mundo Património é uma organização sem fins lucrativos que se dedica ao conhecimento, intervenção, divulgação e revitalização do Património Cultural Português.
Acreditamos no potencial do Património cultural do nosso país, acreditamos no potencial do seu significado, das suas múltiplas histórias, no potencial afectivo destes recursos culturais.
Pretendemos assim tornar mais evidente este potencial, criar uma relação entre os portugueses e o seu património, levando todos e cada um de nós a assumi-lo, antes de mais, como sendo seu. Uma relação cheia de direitos e deveres, cheia de aventuras, entusiasmo, aprendizagem, enriquecimento individual e coletivo.
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Rota do Fresco: pintura mural alentejana
A pintura mural alentejana teve a sua origem em todo o tipo de encomendantes (nobres, confrarias / irmandades, Misericórdias, comissões fabriqueiras), e cobriu todo o território regional, existindo tanto em edifícios religiosos (ermidas, capelas, igrejas e mosteiros) como civis (palácios). O auge criativo da pintura mural alentejana centra-se no final da centúria quinhentista e primeira metade do século seguinte: ao longo do século XVII, enquanto crescia no resto do país a moda da talha, do azulejo e da pintura sobre tábua ou tela, que a pintura mural alentejana desenvolveu a sua função catequética com composições figurativas de larga escala. Recursos económicos insuficientes, impeditivos de chegar à boa pintura a óleo, têm sido apontados como causa para a diferenciação artística, ao nível da pintura mural, entre esta região e o resto do território nacional. Mas outras razões surgem de forma bem mais evidente...
É o caso da tipologia das construções religiosas no Alentejo: maioritariamente ermidas ou capelas de uma só nave, com cobertura de pedra, e marcadas pela robustez e opacidade dos alçados (sustentados por contrafortes possibilitadores do lançamento das referidas abóbadas de alvenaria de tijolo) protectores das elevadas temperaturas exteriores. Ou seja, uma extensa superfície apta a ser decorada, a exiguidade do espaço convidando à pintura monumental.
A questão climatérica tem também sido utilizada como justificação para a predominância da pintura a fresco nesta região em detrimento de outras regiões do país. Contudo, esta será uma razão absolutamente secundária, prendendo-se a opção pela técnica da pintura a fresco muito mais com a abundância de cal que se verifica nesta região, bem como com a tradição do seu manejo do que propriamente com a boa conservação do fresco que o bom tempo asseguraria.
No que diz respeito à permanência temática e formal até à primeira metade do século XVII da composição essencialmente figurativa com apontamentos ornamentais, característica do período tardo-medieval, ela é uma evidência em todos os exemplares alentejanos, enriquecidos contudo com outras recorrências estilísticas marcadamente regionais: uma encenação do tema retratado, evidente na teatralidade das personagens; uma policromia forte – tradução da diversidade de pigmentos naturais obtidos na planície alentejana –; uma aposta no efeito de conjunto e não no pormenor do traço, a maior parte das vezes, de qualidade mediana.
A superação da ausência de mestria técnica é reforçada pela opção por composições totalizantes com ermidas e capelas revestidas inteiramente por pinturas murais, apesar de, mesmo que pertencentes à mesma mão, manterem, como no resto do país, a ausência de narratividade. A pintura mural, no caso alentejano, em pleno século XVII, fica muitas vezes como o único elemento artístico do edifício, preenchendo-o e animando-o em exclusividade, numa clara manifestação de horror vacui. Todavia, este enunciado proto-barroco permaneceu isolado no quadro das bases estilísticas desta manifestação pictórica uma vez que, durante toda a primeira metade do século XVII, se constata a permanência do figurino maneirista e mesmo de retardatários apontamentos do tardo-gótico nas pinturas murais do aro da Arquidiocese de Évora.
Outra particularidade do núcleo de pintura mural alentejano é a constatação deste ter chegado, em grande parte, até aos nossos dias. Esta situação deve-se essencialmente a três factores: em primeiro lugar, ao facto da maioria da pintura ter sido executada na técnica do fresco; por outro lado, à inexistência de recursos financeiros – cada vez mais evidente – que permitissem a alteração dos edifícios ou do seu interior; por fim, ao recurso à cal quando a pintura estava desgastada, permitindo assim a sua conservação e posterior resgate (se fosse caso disso) quase incólume. A desertificação crescente com o consequente esquecimento ao qual o património alentejano esteve votado ao longo de todo o século XX, determinaram também a quase inexistência de adulterações significativas neste acervo pictórico.
Um momento artístico guardado assim, ironicamente, pelas adversas vicissitudes sócio-económicas desta região do país e que, hoje, à medida que se estudam mais exemplares, ganha uma especificidade única no quadro do acervo de pintura mural de Portugal.